Talentos para Ficar de Olho: Carlos Bacchi

por Manuela Bordasch

Se engana quem pensa que alta costura é exclusividade das principais capitais da moda. No interior do Rio Grande do Sul, o estilista Carlos Bacchi coloca em prática todas as técnicas artesanais que fazem um vestido se tornar uma obra de arte, tamanho trabalho manual e criativo colocados em cima.

Das salas de aula de universidades como Instituto Marangoni e Central Saint Martins, Bacchi consegue mesclar a delicadeza e a ousadia de um jovem designer em seu ateliê, onde produz comprimentos mini nada óbvios e longos deslumbrantes – leia-se: de deixar qualquer tapete vermelho desejando muito vê-los desfilar.

Não por acaso, seu trabalho é buscado por quem não quer nem arriscar parecer comum em uma festa e principalmente no altar. Sim, o gaúcho é um dos novos queridinhos – a adicionar na sua lista já! – das noivas que procuram algo tão único quanto à sensação de trocar as alianças com quem se ama. Com um segundo ateliê em Porto Alegre, onde fica mais perto das clientes, já é tido como promessa da cena por lá.

Ah, e se você procura alguma consistência visual nas suas coleções e criações exclusivas, esqueça. Pois, ele vai do romântico rendado com aplicações a modelagens quase futuristas e cheias de personalidade jovem e urbana. Enfim, Bacchi é tão versátil quanto talentoso e por isso consegue como poucos imprimir a sua marca em vestidos de estilos completamente diferentes, mas sempre comuns em um ponto: estonteantemente bonitos e femininos.



Pergunta1

Corrida! Como trabalhamos com sob-medida, a maior parte do dia é dedicada ao atendimento às clientes. Temos horários para os primeiros encontros, para a escolha do modelo, escolha dos materiais que serão utilizados, e muitas provas até a entrega. Para que o resultado final das peças seja exatamente como imagino, é extremamente importante acompanhar todo o processo de confecção de perto. Nenhum vestido do Atelier passa longe dos meus olhos, e todos, em algum momento, caem em minhas mãos. Junto com nossa equipe, participo principalmente do corte e do bordado. Cada minuto de folga entre uma cliente e outra é importante para alinhavar com a turma da produção os detalhes de cada vestido.

Como somos uma empresa pequena, cabe a mim a responsabilidade da escolha de todos os materiais. Além dos atendimentos e do acompanhamento da produção, sou o responsável por decidir e comprar os tecidos, aviamentos e pedrarias para os bordados.

Pergunta2

São três: setembro, outubro e novembro. Nessa época do ano nossa agenda fica lotada de casamentos, temos normalmente várias noivas por final de semana, o que deixa todo mundo sem dormir :)

Acredito que essa época seja a preferida das noivas aqui no sul por ser o fim do inverno e início de um clima mais ameno. Como temos muitos casórios em vinícolas, praias e campos, essa é a época que mais se pode confiar no tempo aqui.

Ficamos todos bem loucos! São inúmeras horas de muito trabalho, sem parar. O bordado - um dos pontos fortes da casa - se torna interminável! Queremos sempre colocar mais um cristal aqui, uma pérola lá. Nessa época não existe vida social, nem muito menos descanso. Na quinta e na sexta sempre acho que alguém da equipe vai ter um treco, e no sábado nos emocionamos ao ver nossas clientes e novas amigas emocionadas realizando seu maior sonho. É impagável! 

Pergunta3

Sabe que na verdade sinto que cada novo vestido sob-medida que inventamos tem uma conexão com os que estão sendo feitos na mesma época. Para mim, tudo parece uma grande coleção, sem fim. Vamos evoluindo, melhorando o que não adoramos no vestido anterior. Quanto à criação e ao estilo, também se trata de uma evolução. Eu sei as coisas que gosto, sei também o que eu quero para o resultado final perfeito: beleza. Uso sempre minhas referências pessoais (objetos, imagens) para criar alguma peça quando a cliente me dá total liberdade. Thanks God isso vem aumentando conforme o tempo passa, e cada vez mais posso viajar na criação e colocar o meu sentimento naquele vestido.

Pergunta4

O que enche os olhos. A natureza para mim é o melhor exemplo. Sabe quando tu estás diante do Canyon Fortaleza, aqui em Cambará do Sul? Pois é. Sigo o mesmo critério de inspiração para itens que não estão entre fauna e flora também. Obras, construções, fotografias, e até roupas de outros criadores. Quando me faz suspirar e quase parar o coração, já é forte motivo de inspiração

Pergunta5

Bah, não sei responder. De uma forma geral, acho meio cansativo tudo que estamos vendo por aí. Não consigo acompanhar quem são as meninas da vez, ou as celebridades que estão se destacando pelo estilo, até pela falta de tempo. Acho que minhas musas são pela beleza, não pelo estilo. O corpo, olhos, queixos e combinação das cores me deixam mais entusiasmado do que a roupa em si, até por que a roupa tem que ser o segundo plano. Não gosto quando a roupa chama mais a atenção do que a mulher. Tem que ser um conjunto, na medida.

Pergunta6

O primeiro encontro é sempre uma conversa tranquila, onde falamos sobre o evento, sobre o estilo e vontades dela, e sobre como ela deseja que as pessoas a enxerguem em tal ocasião. Se a cliente trouxer referências, acho ótimo! Consigo entender mais sobre o que ela gosta e espera para o vestido. Em um próximo encontro, apresento algumas idéias que crio sozinho baseadas naquela conversa do primeiro dia. Nesse momento, decidimos o modelo que será desenvolvido e também acertamos o custo para isso. O próximo encontro serve para decidirmos os tecidos e provarmos um croqui (molde) em algodão cru, onde alfinetamos, rabiscamos, desenhamos todos os cortes do vestido. Depois temos as provas, que normalmente são 3 ou 4.

Prefiro sem dúvida construir o modelo junto com a cliente. Com o crescimento tão rápido do Atelier, hoje é impraticável fazermos uma réplica de outro vestido. Aos poucos, o público também vai me conhecendo e me procurando pelo meu estilo. Hoje atendo bem mais clientes que me procuram e dizem “Carlos, faz o que tu quiser! Confio em ti”. Isso me realiza!

Pergunta7

Apesar de se tratar da mesma ocasião para todas, são todas diferentes. Sempre me divirto muito. Claro que existem os momentos Bridezilla, mas felizmente isso ocorreu uma ou duas vezes até hoje. Muitas vezes as noivas ficam muito nervosas, e é fácil de entender, é um momento que envolve sentimentos à flor da pele. Eu me demonstro calmo, acredito que esse seja meu papel perante a equipe, mas não posso negar que nas provas finais sempre fico ansioso para que tudo dê certo. E sempre dá, mais cedo ou mais tarde.

Pergunta8

Quando estamos sem clientes, ligamos um sonzão e deixamos nossas mascotes Tule e Seda dormirem nos nossos pés (claro, bem longe dos vestidos). É uma delicia! Adoro ficar com a equipe produzindo, rimos muito trabalhando juntos. Com a maioria das clientes acaba virando a mesma festa. Nosso Atelier em Ana Rech é uma casa de madeira antiga, com porão de pedra, típica italiana. Sem frescuras, como se a cliente estivesse na própria casa. Temos uma varanda com pés de caqui e araçá, e o sol contorna a casa em todos os horários do dia, sem preço!

Pergunta9

Bah, muita gente. Gisele e Fernanda Lima por exemplo são ícones de beleza para mim, adoraria vê-las de Carlos Bacchi Atelier desfilando por aí. 

Pergunta10

Sou muito focado nas minhas tarefas diárias, por isso tenho a impressão que ainda não prestei atenção na dimensão que meu trabalho está tomando, de forma tão rápida. O sucesso do Atelier é voraz, mas ainda regional. Acredito que até o momento esse sucesso tenha só ajudado, abrindo muitas possibilidades legais. Também creio que 27 anos não seja tão pouca idade assim kkkkk, há gente mais nova e com sucesso muito maior, para eles deve ser mais complexo.

Pergunta11

Eu sonho em ser! Não me considero estilista de alta costura ainda, e sim um estilista dedicado. 

Meu primeiro conselho é: boa vontade! Além de fazer tudo o que eu disse que faço em um dia de trabalho, não me nego à varrer o chão, passar o aspirador na sala de provas entre uma cliente e outra, lavar uma xícara ou trocar um rolo de papel higiênico no lavabo. Acho que isso é válido para qualquer profissão. Percebo que grande parte do pessoal que cursa moda já imagina começar trabalhando na criação, e na verdade isso é só um pedacinho de tudo que devemos fazer.

Outra dica tri importante é o bom humor: eu sou um cara que muda de humor com um estalar de dedos (minha família que o diga), mas nunca no meu trabalho! Não deixo com que clientes e colegas de trabalho se sintam desconfortáveis por uma cara rabugenta. No Atelier, estou sempre feliz, alegre e pronto para qualquer coisa, e sei que minhas clientes adoram que eu seja assim. Na minha equipe, mau humor é fator decisivo, não faz parte! 

E se tu topas fazer/ser tudo isso, o que falta é estudar e se aperfeiçoar. Para ser um bom estilista, é imprescindível saber costurar, modelar e arrematar uma peça, do início ao fim. Foi assim que comecei, fazendo tudo sozinho e buscando ajuda com profissionais que pudessem me fazer crescer. 

Acredito também que o estudante de moda pode se beneficiar muito de ter a experiência de estagiar com estilistas que trabalhem na área em que se busca. Aprendi muito com nas empresas que me deram oportunidade, mesmo sendo voluntário. Ser honesto, ético e sensato também acredito ser fundamental.

Na minha opinião esse é o match perfeito.

Além dos vestidos lindos, Carlos fez uma co criação com a marca de sapatos Cecconello, que você já deve ter visto no Steal The Look:

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